Bipolaridade
- Margarida Viñas
- Jun 17
- 2 min read
Updated: Jul 9

Falar sobre bipolaridade é, muitas vezes, falar de extremos: euforia e melancolia, impulsividade e retraimento, expansividade e silêncio. São estados psíquicos intensos que, para quem os vive — e para quem convive — podem parecer incompatíveis, confusos, ou mesmo contraditórios. No entanto, por trás desse movimento oscilante, há sempre uma lógica subjetiva que merece ser escutada.
A psiquiatria descreve o transtorno bipolar como uma condição marcada por episódios alternados de mania e depressão, com impactos significativos no humor, no comportamento e nas relações. Medicamentos podem ser fundamentais para estabilizar o funcionamento psíquico. Mas quando o olhar se limita à bioquímica cerebral, corre-se o risco de reduzir o sujeito ao seu diagnóstico, como se a oscilação emocional fosse apenas uma disfunção a ser controlada.
A psicanálise não nega a dimensão clínica da bipolaridade, mas convida a ir além da estabilização. O que há por trás do excesso de energia que toma conta do corpo? O que significa, para aquele sujeito, mergulhar repentinamente num vazio? Que experiências, perdas, fantasias ou defesas atravessam essa gangorra afetiva?
Na clínica psicanalítica, não buscamos neutralizar a oscilação, mas compreender o que nela insiste. Em alguns casos, a exaltação pode surgir como defesa contra uma dor insuportável. Em outros, o rebaixamento do humor pode funcionar como uma forma de punição inconsciente. Cada trajetória é única, e o diagnóstico, por si só, não dá conta da complexidade que pulsa em cada história de vida.
Entre o alto e o baixo, o rápido e o lento, há um sujeito tentando dar conta de sua existência. E é nesse entre — esse espaço muitas vezes ignorado — que a análise propõe escuta. Porque o que chamamos de "transtorno" pode ser, também, um modo sofrido de tentar existir, de buscar um lugar no mundo, de se fazer ouvir.
Ao dar lugar à palavra, à história, ao desejo, a psicanálise não promete a cura do sofrimento, mas oferece uma travessia possível — uma em que o sujeito possa, aos poucos, escrever sua própria narrativa, sem ser reduzido a um rótulo ou a um ciclo que se repete sem fim.



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