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Perdas: o vazio que se insatala

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As perdas fazem parte da vida. Perde-se uma pessoa, uma relação, um emprego, uma fase da vida, uma capacidade, um ideal. Algumas perdas são visíveis, reconhecidas socialmente. Outras são silenciosas, subjetivas, difíceis até de nomear. O que todas têm em comum é que exigem do sujeito um enorme trabalho psíquico.

Na psicanálise, compreendemos a perda não apenas como um acontecimento externo, mas como algo que reverbera internamente, que toca a constituição do sujeito, suas identificações, seus afetos e o modo como ele se inscreve no mundo. Perder não é só “ficar sem”. É ver algo que sustentava a existência fazer furo, e ter que se haver com o vazio que se forma.

Há perdas esperadas — como o fim da infância, a aposentadoria, os filhos que saem de casa. Outras são abruptas: uma separação, uma demissão, uma morte, uma traição. Em todos os casos, o sujeito é confrontado com a falta, e precisa encontrar um modo de simbolizá-la, de inscrevê-la em sua história. Quando isso não acontece, surgem sintomas: tristeza crônica, apatia, ansiedade, sensação de paralisia, ou repetições inconscientes do trauma da perda.

Freud já dizia que o luto é o processo psíquico pelo qual o sujeito vai se desligando do objeto perdido. Mas não se trata de esquecer ou apagar. Pelo contrário: é necessário lembrar, nomear, sentir, chorar, até que aquele vazio que ficou encontre um lugar onde possa ser carregado sem esmagar. Esse processo é único e exige tempo.

Em análise, o sujeito encontra um espaço onde a perda pode ser elaborada. Um lugar onde se pode reconstruir um sentido para aquilo que foi desfeito. Onde o vazio pode ganhar forma e, aos poucos, habitado por palavras e imagens.

Algumas perdas nunca se “superam”. Mas é possível atravessá-las e encontrar uma nova forma de viver com elas. Não como uma ferida aberta, mas como uma marca que se integra à história e faz de você quem você é.


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