Adolescência, perdas e ganhos
- Margarida Viñas
- Jul 12
- 2 min read

A adolescência é, talvez, uma das fases mais inquietantes da vida. O corpo se transforma de forma rápida e imprevisível, as emoções oscilam, os vínculos se intensificam ou se rompem, e o adolescente parece, muitas vezes, estar entre dois mundos: não é mais criança, mas ainda não sabe o que é ser adulto.
Para os pais, pode ser um tempo de angústia: o filho que antes era próximo se torna silencioso, arredio, irritado. A filha que antes compartilhava tudo agora parece distante, incompreensível. Para os próprios adolescentes, no entanto, o sofrimento é muitas vezes ainda mais agudo: há confusão, solidão, medo, desejo, vergonha. A psicanálise convida a escutar esse momento não como um "problema a ser resolvido", mas como uma etapa decisiva da constituição do sujeito.
Freud dizia que a puberdade é marcada por um “renascimento da sexualidade”. Depois da relativa calmaria da infância, os impulsos sexuais retornam com força, e com eles vêm novas questões sobre o corpo, o prazer, o amor e a identidade. Lacan aprofundou essa leitura ao afirmar que, com a puberdade, o sujeito é confrontado com a impossibilidade de saber o que significa ser homem ou mulher. Em outras palavras, o adolescente não sabe ainda como se posicionar no campo do desejo — nem o seu, nem o do outro.
Essa incerteza pode gerar sintomas diversos: crises de autoestima, retraimento social, agressividade, comportamentos de risco, distúrbios alimentares, uso de drogas, entre outros. Não são simples "rebeldias", mas formas de lidar com um mal-estar profundo, muitas vezes sem palavras.
Além disso, o adolescente precisa separar-se das figuras parentais para construir sua autonomia. Esse processo — chamado de "separação-individuação" — pode ser vivido com culpa, raiva ou culpa dos pais, como se fosse preciso romper totalmente com eles para existir. É nesse ponto que os conflitos familiares se acirram: ambos os lados sofrem, mas nem sempre conseguem se escutar.
Neste momento, é necessário abrir um caminho no qual as perguntas do adolesctente — sobre si, sobre o outro, sobre o mundo — possam ser sustentadas, para que ganhem forma. Escutar um adolescente é reconhecer sua dor como legítima, mesmo que ele não saiba ainda expressá-la com clareza.
Para os pais, é tempo de lidar com a frustração de não ter mais poder para proteger o filho, com a sensação de perda da criança pequena que já não existe. E, sobretudo, com a tarefa de confiar na travessia do filho, por mais incerta que ela pareça.
A adolescência é um tempo de passagem. E como toda passagem, é marcada por rupturas, riscos, mas também por reinvenções. Mas passa.



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