Depressão
- Margarida Viñas
- Jun 18
- 2 min read
Updated: Jul 9

A depressão nem sempre aparece como um grande drama. Às vezes, é apenas um esvaziamento silencioso: o gosto pela vida vai sumindo, as tarefas mais simples se tornam pesadas, o corpo se arrasta e os dias se repetem em uma espécie de cinza emocional difícil de nomear. Há quem sorria, trabalhe, cuide dos outros — mas, por dentro, sente-se apagado, ausente de si.
A medicina costuma descrever a depressão como um distúrbio do humor, frequentemente associado a alterações químicas no cérebro. Essa perspectiva pode ser importante — sobretudo quando o sofrimento paralisa — e os recursos farmacológicos, em muitos casos, oferecem um ponto de apoio necessário. Mas a psicanálise propõe um olhar mais profundo: o que está calado por trás desse silêncio? O que se perdeu, o que não pôde ser dito, o que foi deixado de lado na história de quem sofre?
A depressão, na escuta analítica, não é apenas uma doença a ser tratada. É também um modo de expressão. Um apelo sem palavras. Um sinal de que algo na vida psíquica está bloqueado, interditado ou excessivamente exigido. Muitas vezes, o sujeito deprimido não se reconhece mais em sua própria história — como se tivesse se afastado de si mesmo, do desejo, da potência de estar no mundo.
Esse esvaziamento, que tanto angustia, pode ser uma defesa contra um conflito interno ainda sem nome. Pode estar ligado a lutos não elaborados, a ideais inatingíveis, a culpas que nunca cessam. Não há respostas universais — há trajetórias singulares que merecem ser escutadas, sem pressa, sem julgamento.
Na análise, não se trata de "sair da depressão" como quem atravessa um túnel rumo à luz. Trata-se, antes, de construir um caminho próprio, no qual o sujeito possa, aos poucos, reencontrar sua palavra, sua posição, sua história. O sintoma deixa de ser um inimigo e se torna um guia — um ponto de partida para uma escuta que acolhe o que até então estava sem lugar.
Porque às vezes, o que chamamos de “fraqueza” é, na verdade, uma forma de resistência. E o que parece inércia, pode ser o corpo dizendo que algo precisa mudar — e que talvez seja hora de se escutar.



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