Por que a psicanálise?
- Margarida Viñas
- Aug 18
- 2 min read

Quando alguém busca modos de lidar com o sofrimento psíquico, não faltam opções: terapias breves, aconselhamento, técnicas de autoajuda, medicações, práticas de coaching. Diante dessa multiplicidade, surge uma pergunta inevitável: por que escolher a psicanálise?
A singularidade do inconsciente
A psicanálise, desde Freud, parte de uma premissa que a distingue radicalmente de outros modos de tratamento: o ser humano não é transparente a si mesmo. Há em nós uma dimensão inconsciente que orienta desejos, sintomas e escolhas, regendo nosso destino, e passando longe do controle da razão. Enquanto muitas terapias se concentram apenas em “corrigir” comportamentos ou aliviar sintomas de forma pontual, a psicanálise busca compreender a lógica própria desse inconsciente, permitindo que o sujeito encontre novas formas de se relacionar consigo e com os outros.
Mais do que eliminar sintomas
Outras abordagens frequentemente avaliam seu sucesso pela rapidez na redução de sintomas. A psicanálise reconhece que o sintoma não é um erro a ser extirpado, mas uma formação de compromisso, uma mensagem que há algo sendo dito ali. Escutar e decifrar esse sintoma abre a possibilidade de transformações duradouras, que não se limitam a “calar” a dor, mas a reorganizar a posição subjetiva frente a ela.
Tempo e profundidade
Uma transformação do sujeito não poderia ser uma coisa simples: a psicanálise não promete resultados imediatos. Ela aposta no tempo necessário para que cada sujeito encontre sua própria verdade. Esse tempo, longe de ser uma desvantagem, é justamente o que garante a profundidade e a consistência das mudanças obtidas. Contudo, logo no início do tratamento, muitos dos sintomas desaparecem. Além disso, pesquisas comparativas mostram que processos psicanalíticos geram efeitos que se prolongam anos após o término da análise, ao contrário de tratamentos mais diretivos, cujos resultados tendem a diminuir com o tempo.
Evidências de eficácia
Estudos internacionais de longo prazo (como os conduzidos por Falk Leichsenring e Sven Rabung, na Alemanha) demonstraram que a psicanálise apresenta ganhos significativos em casos de depressão crônica, transtornos de personalidade e sofrimentos complexos, muitas vezes resistentes a terapias mais breves. Esses trabalhos confirmam que a profundidade do método não é incompatível com evidência científica; ao contrário, mostra-se altamente eficaz quando se considera a vida psíquica em sua complexidade.
A ética do sujeito
Mas o diferencial mais decisivo da psicanálise não está apenas na eficácia mensurável, mas em sua ética. O analista não oferece conselhos prontos nem fórmulas de felicidade. Ele sustenta um espaço em que o sujeito pode apropriar-se de sua palavra, de seu desejo e de sua responsabilidade. Em um mundo cada vez mais marcado por soluções rápidas e promessas fáceis, a psicanálise preserva o valor do singular, do irrepetível em cada um.
Em resumo
A psicanálise funciona melhor não porque seja mais rápida, mas porque é mais fiel à verdade de cada um. Ela não se limita a suprimir sintomas: abre caminho para que o sujeito descubra novas formas de viver, amar e desejar. Por isso, permanece atual, necessária e insubstituível.



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