Sentir-se sem saída
- Margarida Viñas
- Jul 20
- 2 min read

Sentir-se sem saída: o impasse subjetivo e a possibilidade da travessia
Muitas pessoas, em algum momento da vida, se encontram diante da sensação angustiante de que não há saída, de que tudo está parado ou bloqueado — um verdadeiro impasse que parece impedir qualquer movimento, qualquer transformação. Essa sensação de “estar sem saída” pode se manifestar em diferentes áreas: no trabalho, nas relações, na própria existência.
Do ponto de vista psicanalítico, essa experiência não é apenas um estado emocional momentâneo ou uma crise passageira. Ela fala de um conflito interno profundo, muitas vezes inconsciente, que envolve o desejo, o sofrimento e a estrutura da subjetividade. Sentir-se “sem saída” é, em certa medida, o sinal de que algo essencial está em jogo — uma interrogação sobre quem se é, o que se quer e como se pode existir.
O sujeito humano é, por natureza, dividido e incompleto. Não há uma identidade fixa, nem um caminho pré-determinado. Essa divisão pode gerar angústia, especialmente quando o sujeito se depara com a impossibilidade de realizar plenamente seus desejos ou de encontrar sentido no que vive. Muitas vezes, a saída que se procura não aparece porque o desejo está encoberto por camadas de medo, culpa, ou identificações rígidas.
Além disso, o sentimento de “não ter saída” pode estar relacionado a padrões repetitivos que se estabeleceram ao longo da história de vida: escolhas que parecem sempre dar no mesmo lugar, relações que se repetem, modos de pensar e sentir que aprisionam. Esses ciclos podem ser invisíveis ao sujeito, que os vive como um destino inevitável.
A psicanálise propõe que essa sensação de bloqueio seja escutada como um sintoma que merece atenção e cuidado. O trabalho analítico oferece um espaço onde o sujeito pode começar a desvelar esses conflitos, a dar voz aos desejos ocultos, às dores reprimidas e aos fantasmas que atravessam sua vida.
Essa travessia não é simples nem imediata. Ela exige coragem para enfrentar o desconhecido dentro de si, para questionar as certezas que antes pareciam sólidas e para abrir espaço para o novo — mesmo que esse novo seja incerto e assustador.
No processo analítico, o sujeito descobre que a saída não está em respostas prontas ou fórmulas mágicas, mas na possibilidade de se tornar sujeito ativo de sua própria história. É a partir desse movimento que o impasse começa a se deslocar, dando lugar a possibilidades antes invisíveis.
Sentir-se sem saída, portanto, pode ser o ponto de partida para uma verdadeira travessia subjetiva — um caminho de autoconhecimento, de reinvenção e, sobretudo, de reencontro com o desejo e com a vida.



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