top of page

Trabalho: alegria ou sofrimento

Quando o trabalho adoece: o que a psicanálise pode dizer sobre os impasses na vida profissional

ree

Vivemos em uma época em que o trabalho ocupa um lugar central na vida das pessoas. Muito mais do que uma fonte de sustento, ele se tornou também fonte de identidade, de reconhecimento e de valor pessoal. “O que você faz?” é, frequentemente, a primeira pergunta em uma conversa com alguém novo — e, muitas vezes, também a medida de quanto aquela pessoa será valorizada ou não. Nesse cenário, os problemas no trabalho se tornam, cada vez mais, problemas da alma.

Ansiedade, esgotamento, desmotivação, medo de errar, conflitos com chefes ou colegas, sensação de inadequação, desejo de desistir: esses sintomas são comuns no discurso de quem procura um analista. E, ao contrário do que muitos pensam, não se tratam apenas de reações ao excesso de tarefas ou a condições ruins. Muitas vezes, o que adoece é o modo como o sujeito se implica — ou não — no que faz. A relação com o trabalho costuma revelar algo do desejo inconsciente.

Algumas pessoas entram em colapso porque se sentem obrigadas a render o tempo todo, como se o próprio valor estivesse em jogo a cada tarefa. Outras vivem um tédio paralisante, como se nenhuma função fosse suficientemente boa ou interessante. Há também aquelas que estão sempre em conflito, trocando de emprego ou tendo dificuldades de se submeter à autoridade, como se cada ambiente profissional fosse uma repetição de uma história anterior — às vezes familiar, às vezes escolar — que ainda está viva, sem ter sido simbolizada.

A psicanálise não parte da ideia de que o trabalho tem que ser uma fonte de realização plena, nem que o sofrimento profissional deva ser resolvido com motivação ou produtividade. Ela oferece um espaço em que o sujeito pode escutar o que se repete, o que retorna nas escolhas (ou nas recusas), e qual é a lógica inconsciente que estrutura sua relação com o fazer.

Por que alguém escolhe uma profissão que odeia? Por que alguém que tem talento não consegue se sustentar com o que ama? Por que certas pessoas sempre se colocam em lugares de subserviência ou de autoexploração? A resposta não está na má sorte nem apenas nas condições externas — embora estas também sejam reais —, mas numa relação com o desejo que precisa ser interrogada.

Em análise, o trabalho pode deixar de ser apenas um campo de sofrimento ou frustração para se tornar um lugar de elaboração: um modo de lidar com o mundo, com o outro, com o tempo, com a finitude. Quando o sujeito se autoriza a falar do que vive, do que sente, do que suporta ou evita, algo pode se deslocar. E, mesmo que as condições externas não mudem imediatamente, a forma como ele se posiciona frente a elas pode ganhar outra espessura.

A psicanálise não oferece receitas de sucesso profissional, mas pode ajudar o sujeito a deixar de se repetir no mesmo ponto de impasse — e, a partir disso, encontrar novos modos de estar no mundo.

Comments


bottom of page